Consciência e Materialismo Histórico: Marx Contra o Dualismo
A consciência humana sempre foi um tema central na filosofia e na política. Mas o que determina nossa consciência? Ela surge espontaneamente dentro de nós ou é moldada pelo mundo em que vivemos? Para Marx, essa questão é essencial dentro da concepção materialista da história e, ao contrário do que muitos pensam, sua resposta rompe tanto com o determinismo mecânico quanto com o idealismo abstrato.
O Ser Social Determina a Consciência
Um dos trechos mais conhecidos de Marx vem do prefácio da Contribuição à Crítica da Economia Política:
"Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social que determina a sua consciência."
Muita gente interpreta esse trecho de maneira simplista, como se Marx estivesse dizendo que o meio externo "causa" diretamente a consciência. No entanto, o significado é muito mais profundo. No século XIX, o termo "determinar" não tinha o mesmo sentido mecânico e linear que passou a ter depois. Determinar, para Marx, não significa simplesmente causar, mas sim estabelecer uma relação interna, imanente, entre o ser social e a consciência.
Ou seja, a consciência humana não existe separada da realidade material, nem surge como um reflexo passivo do mundo. Ela é um atributo dos indivíduos, mas os indivíduos são parte de um contexto histórico e social que molda suas ideias, percepções e formas de agir.
Praxis: Consciência e Ação no Mundo Real
Na Ideologia Alemã, Marx e Engels criticam o dualismo que dominava a filosofia até então:
"A principal insuficiência de todo o materialismo anterior – incluindo o de Feuerbach – é que a realidade, o mundo sensível, é considerado apenas sob a forma de objeto ou contemplação."
Essa crítica é fundamental para entender por que Marx rejeita tanto o materialismo vulgar, que trata a consciência como um reflexo passivo do mundo, quanto o idealismo, que coloca o pensamento humano como criador absoluto da realidade. O que ele propõe, em vez disso, é uma compreensão dialética onde o ser humano, ao mesmo tempo que é condicionado pelo seu contexto social, também age sobre ele.
É a práxis, a ação consciente no mundo, que faz da consciência um elemento revolucionário. A sociedade capitalista, por exemplo, não se sustenta apenas por sua estrutura econômica, mas também pelas formas de consciência que ela induz e reproduz. A ideologia dominante busca naturalizar a exploração, mascarar as relações de poder e impedir que a classe trabalhadora tome consciência de sua própria força.
Contra o Idealismo e o Materialismo Mecânico
Na tradição filosófica moderna, encontramos dois grandes polos:
- O Materialismo Mecânico – Enxerga a realidade como um conjunto de leis externas que regem passivamente a sociedade e a consciência. Para essa visão, a mudança ocorre quase como um processo natural, sem necessidade de ação revolucionária.
- O Idealismo – Trata o conhecimento como uma mera construção subjetiva, como se o mundo exterior fosse irrelevante e tudo se resumisse a interpretações e narrativas.
Ambas as visões são insuficientes porque ignoram a relação dialética entre consciência e ser social. O capitalismo, por exemplo, não se sustenta apenas porque os meios de produção estão nas mãos da burguesia, mas também porque a classe trabalhadora, em grande parte, está presa a formas de consciência que reproduzem a lógica do sistema.
Não basta, portanto, "ter consciência" – é preciso agir no mundo para transformá-lo. Da mesma forma, não basta apenas agir sem compreender as condições concretas em que se está inserido. O pensamento e a ação revolucionária precisam andar juntos.
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