Como Identificar o Fascismo: As 14 Características do Ur-Fascismo Segundo Umberto Eco
Por um punho anarquista erguido contra a tirania
O fascismo não morreu. Ele apenas se metamorfoseou — trocou as botas militares por ternos de grife, substituiu os discursos inflamados em praça pública por algoritmos de redes sociais e think tanks financiados por bilionários. Mas sua essência permanece a mesma: o culto à autoridade, o ódio à liberdade e a obsessão por controlar os corpos e as mentes.
Umberto Eco, em O Fascismo Eterno, nos oferece uma bússola para navegar esse pesadelo político. Não se trata apenas de lembrar Mussolini ou Hitler, mas de reconhecer os traços do fascismo em qualquer época, em qualquer lugar — inclusive no presente. Como anarquistas, sabemos que o Estado, o capital e a hierarquia são os pilares que sustentam essa máquina de opressão. E, como diria Malatesta, o fascismo é a face mais brutal do Estado quando ele se sente ameaçado.
Abaixo, desmontamos as 14 características do Ur-Fascismo, não como um exercício acadêmico, mas como um manual de sobrevivência. Porque, como bem lembrava Lucy Parsons: "Nunca implore por justiça. Pegue-a."
1. Culto da Tradição
O fascismo adora se vestir de passado. Inventa mitos sobre uma "idade de ouro" que nunca existiu — um tempo puro, sagrado, onde os "verdadeiros valores" reinavam. Na prática, isso significa rejeitar qualquer avanço social: direitos das mulheres, emancipação queer, anti-racismo. Como José Oiticica denunciava, o tradicionalismo serve muitas vezes como muleta para os que temem o futuro.
2. Rechaço da Modernidade
O fascismo odeia o Iluminismo, a razão, a ciência. Prefere a fé cega, o obscurantismo, a "verdade revelada". Por isso atacam universidades, jornalistas, artistas. Malatesta sempre defendeu que a ignorância popular era solo fértil para a tirania — o que o fascismo sabe explorar bem.
3. Culto da Ação pela Ação
Pensar é perigoso. Questionar é traição. O fascismo glorifica a violência irrefletida, o impulso bruto. Marchas, saudações, rituais vazios — tudo para manter as massas em frenesi, sem tempo para refletir. Como dizia Parsons, a ação deve ser acompanhada de consciência, ou é apenas obediência disfarçada.
4. Intolerância ao Pensamento Crítico
O fascismo não suporta divergência. Quem questiona é um "traidor", um "inimigo interno". Eco lembra: "Para o Ur-Fascismo, discordar é pecado." E nós, anarquistas, sabemos que a liberdade começa exatamente onde o dissenso é permitido.
5. Medo do Diferente
O fascismo se alimenta do pânico. Imigrantes, negros, LGBTQIA+, mulheres independentes — todos viram bodes expiatórios. Para Oiticica e outros libertários, o racismo sempre foi uma ferramenta do poder para dividir e controlar.
6. Apelo às Classes Médias Frustradas
O fascismo não surge do nada. Ele brota do desespero de quem foi abandonado pelo sistema. A classe média, assustada com a perda de privilégios, é terreno fértil para demagogos. Como já foi dito no campo revolucionário, o fascismo é muitas vezes o estágio decrépito do capitalismo tentando se salvar.
7. Nacionalismo e Xenofobia
Pátria, bandeira, hino — símbolos usados para justificar opressão. O fascismo inventa inimigos externos e internos para unir as massas sob um líder. Como Parsons apontava, o nacionalismo é frequentemente guerra disfarçada de amor à terra.
8. Inveja e Medo do "Inimigo"
O fascismo precisa de um alvo. Às vezes o inimigo é "fraco" (minorias), às vezes "poderoso" (comunistas, globalistas). Essa contradição não importa — o que vale é manter o ódio circulando. O inimigo serve como cola social.
9. Culto à Guerra e Antipacifismo
"Violência resolve tudo" — esse é o mantra. Polícia militarizada, exaltação das Forças Armadas, glorificação da morte. Para Oiticica, o Estado sempre se alimentou da guerra, como um corpo morto que só se move consumindo destruição.
10. Elitismo e Desprezo pelos Fracos
O fascismo adora hierarquias. Os "fortes" mandam, os "fracos" obedecem. É a lei do mais brutal, disfarçada de "ordem natural". Um ataque direto à ideia de igualdade.
11. Heroísmo e Culto à Morte
Mártires, soldados, líderes "sacrificados" — o fascismo romantiza a morte porque precisa de corpos para sua máquina. A tradição anarquista grita o oposto: "Nenhum deus, nenhum mestre, nenhum herói!"
12. Machismo e Repressão Sexual
Homem = guerreiro. Mulher = mãe. Queer = aberração. O fascismo odeia a liberdade sexual porque sabe que corpos livres são corpos perigosos. O controle da sexualidade é pilar central de seu projeto.
13. Populismo Qualitativo
"O povo fala pela minha boca" — eis a mentira fascista. Na prática, o "povo" é uma massa moldada, enquanto uma elite decide. Não há espaço para deliberação real, apenas para a ilusão de participação.
14. Novilíngua e Ataque à Educação
Palavras viram armas. "Liberdade" vira opressão. "Justiça" vira vingança. O fascismo distorce a linguagem para destruir o pensamento — o que torna a educação crítica sua inimiga principal.
Conclusão: Nem Um Passo Atrás
O fascismo não é um fantasma do passado. Ele está aqui, nos gabinetes, nas redes, nas ruas. Como anarquistas, nossa tarefa é reconhecê-lo, expô-lo e esmagá-lo — nas ideias e na prática.
Como dizia Lucy Parsons: "Nunca implore por justiça. Pegue-a."
Pela liberdade, contra todos os fascismos — sempre!
Referências: - Eco, Umberto. O Fascismo Eterno (1995). - Malatesta, Errico. Anarquia e Violência. - Parsons, Lucy. Discurso aos Desesperados. - Oiticica, José. Ação Direta. - Dimitrov, Georgi. A ofensiva do fascismo e as tarefas da Internacional Comunista (1935).
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