Manifesto Digital Anarquista

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O Medo do Afeto e a Ilusão do Controle: A Racionalidade Como Instrumento de Dominação

Vivemos sob o domínio de um sistema que nos ensina a temer nossos próprios afetos. O capitalismo, em sua ânsia por controle e eficiência, nos quer disciplinados, produtivos, racionais. Nos quer engrenagens de uma máquina, não seres humanos vibrantes, emocionados, afetados uns pelos outros. E isso não é de hoje. Há séculos, a lógica ocidental tem tentado submeter as paixões à razão, criando uma dicotomia entre pensamento e sentimento, mente e corpo, masculinidade e feminilidade.

A História do Controle Sobre os Afetos

Desde a Grécia Antiga, a filosofia se dedicou a entender o funcionamento da razão, buscando estabelecer um conhecimento supostamente puro, objetivo, livre de interferências emocionais. Foi aí que nasceu a hierarquia entre logos e pathos: a racionalidade, vista como soberana, deveria subjugar as emoções, que eram tratadas como desordem, fraqueza, perigo.

Esse modelo de pensamento foi reforçado ao longo da história, servindo de base para o patriarcado e para o capitalismo. A lógica cartesiana aprofundou essa separação, fortalecendo a ideia de que o ser humano precisa controlar seus impulsos para ser eficiente e produtivo. Para o sistema, emoções são obstáculos a serem eliminados, a vulnerabilidade é uma fraqueza e o afeto é um risco.

Não por acaso, essa separação entre razão e emoção também sustentou uma estrutura de poder: a masculinidade foi associada à lógica, ao controle, à dominação, enquanto a feminilidade foi vinculada ao corpo, ao afeto, à emoção – e, portanto, àquilo que precisa ser domesticado. Essa lógica patriarcal se estende à maneira como nos relacionamos, fazendo com que o amor e a paixão sejam vistos como fraqueza, como perda de autonomia.

O Medo de Sentir e a Ilusão do Encantamento

Nos ensinam a ter medo do afeto porque ele nos torna vulneráveis, porque nos tira do controle. Mas o que é esse controle, senão uma ferramenta de opressão? Desde crianças, somos treinados para reprimir emoções, para conter impulsos, para evitar laços que possam nos expor. Afinal, quanto mais isolados estivermos, mais fácil será nos manter submissos ao sistema.

Por outro lado, quando finalmente nos permitimos sentir, corremos o risco de cair em outra armadilha: a idealização do outro. Criamos imagens fetichizadas, encantamos objetos comuns, atribuímos poderes quase mágicos àquele que nos apaixona. É o velho sonho do príncipe encantado, da princesa perfeita, que nos ensinaram a buscar desde a infância.

O capitalismo, que lucra com nossa insatisfação, se aproveita dessa ilusão. Ele vende o amor como mercadoria, transforma o desejo em consumo, faz do afeto uma necessidade que só pode ser suprida por meio de produtos, aplicativos, promessas vazias de satisfação.

Mas o amor verdadeiro, aquele que nos transforma, que nos coloca em contato real com o outro, não pode ser comprado. Ele acontece na troca, no compartilhamento de vivências, na construção de relações baseadas na afinidade, na cumplicidade, na criação de territórios comuns.

Libertar-se é Permitir-se Sentir

Se o medo do afeto nos foi ensinado, podemos desaprendê-lo. Podemos romper com essa lógica que nos distancia de nós mesmos e dos outros. Podemos nos libertar da armadilha da idealização e do consumo emocional.

A verdadeira revolução passa pelo resgate dos afetos. Pela construção de laços que não sejam pautados pelo poder, mas pela solidariedade. Pelo reconhecimento de que o amor, o desejo, a amizade são forças que nos fazem vivos, que nos fazem humanos.

Contra um sistema que nos quer frios, controlados, individualistas, a resposta anarquista é o afeto livre, a paixão sem medo, o encontro sem amarras. Porque a maior ameaça ao capitalismo não é a razão absoluta, mas o fogo incontrolável daquilo que sentimos.

  1. Medo do afeto
  2. Ilusão do controle
  3. Dominação através da racionalidade
  4. História do controle dos afetos
  5. Capitalismo e emoções
  6. Hierarquia entre logos e pathos
  7. Papéis de gênero na racionalidade
  8. Repressão emocional
  9. Consumo emocional
  10. Libertação através da aceitação dos afetos

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