Democracia e Representatividade: A Máquina da Farsa

“Mas o povo votou!” — é o argumento repetido como mantra sempre que alguém ousa questionar o sistema político. No entanto, a pergunta central permanece: votar é exercer poder real?

Senso comum

No senso comum, democracia significa eleições periódicas, urnas eletrônicas e pluripartidarismo. Mas se democracia significa literalmente poder do povo, por que a vontade popular é sistematicamente atropelada? A privatização da Sabesp, em São Paulo, é prova cristalina: a maioria da população era contra, mas a medida foi imposta em nome do mercado e dos acionistas. Isso é democracia? Não. É a ditadura da burguesia mascarada de democracia.

Estado

O Estado, longe de ser “ineficiente”, é extremamente eficiente em servir a quem o controla. A maior bancada do Congresso não é a dos professores, dos garis ou dos trabalhadores de aplicativo. É a do agronegócio — uma fração minúscula da população que, no entanto, ocupa centenas de cadeiras. Onde está a bancada da classe trabalhadora, que é a maioria esmagadora? Não existe.

Eis a farsa: quando a burguesia desfruta de “ampla democracia”, o povo vive sob ditadura. Quando os trabalhadores tentam romper essa ordem, a classe dominante denuncia “autoritarismo”. Democracia e ditadura não são polos opostos, mas duas faces da mesma moeda: depende de quem segura o poder.

Parlamento

O parlamento é apenas teatro. Um palco onde atores pagos pela burguesia encenam representatividade, enquanto as decisões reais são tomadas nos bastidores, nos conchavos entre Estado e capital. As eleições, longe de refletirem programas de governo, são decididas por propaganda, manipulação, desinformação e sobretudo dinheiro. Quem banca campanhas milionárias? Quem compra horários de TV e inunda as redes? A classe proprietária. O voto, nesse cenário, é apenas um rito de legitimação, não de poder popular.

Social-democracia

A social-democracia insiste que é possível mudar o jogo por dentro, elegendo “melhores representantes”. Mas acreditar nisso é aceitar as regras impostas pelo inimigo. O parlamento e o pluripartidarismo não foram feitos para o povo, mas para neutralizá-lo.


Por isso, a saída não está em sonhar com uma democracia mais “inclusiva” ou em apostar em partidos mais “progressistas”. A saída está em construir formas diretas de organização popular: assembleias de base, greves, ocupações, conselhos comunitários, solidariedade mútua. Está em praticar a autogestão, onde quem decide é quem vive as consequências das decisões.

A burguesia sempre terá sua democracia e sua representatividade. O que nos cabe é rasgar a máscara dessa farsa e afirmar: o poder do povo não cabe nas urnas, nem no parlamento. O poder do povo nasce na rua, na luta, na autogestão cotidiana — não como promessa distante, mas como prática viva aqui e agora.


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