A Procrastinação e o Super-Ego Capitalista: Como o Sistema Nos Paralisa
A Procrastinação e o Super-Ego Capitalista: Como o Sistema Nos Paralisa
Nos vendem a ilusão de que podemos ser tudo. "Se esforce e conquiste!" dizem. Mas, quando nos deparamos com a realidade, percebemos que não seremos um novo Steve Jobs, uma estrela do rock ou um líder revolucionário aclamado por multidões. Então, o que fazemos? Paramos. Travamos. Procrastinamos.
A cultura do capitalismo tardio enfiou na nossa cabeça que, se não somos os melhores, então não valemos nada. Mas essa é uma lógica cruel, construída para nos manter frustrados e alienados, sempre buscando uma perfeição inatingível e nos sentindo incapazes. O capitalismo cria ícones inalcançáveis – gênios, milionários, artistas prodígios – e nos força a comparar nossas vidas ordinárias com esses mitos. E, quando falhamos nessa comparação, nos paralisamos.
A Ilusão da Meritocracia e o Peso dos Ideais
No passado, a gente vivia em comunidades menores, onde a comparação era limitada ao espaço geográfico e social ao redor. Hoje, com a internet e as redes sociais, nossa régua de comparação é global: o melhor músico, o maior empresário, a pessoa mais bonita, o corpo mais esculpido. A desigualdade é exposta de maneira brutal, e o ideal a ser atingido se torna sobre-humano.
O sistema se aproveita disso para nos vender um sonho de grandeza enquanto suga nossa energia. Nos vendem cursos, livros de autoajuda, planos de assinatura para "hackear" a produtividade. Tudo isso reforça a lógica de que não somos bons o suficiente. A procrastinação surge como um sintoma disso: se eu nunca serei um Neymar, um Shakespeare ou um Elon Musk, por que tentar? Se o meu pequeno projeto não vai mudar o mundo, por que começar?
A Cultura da Preparação Eterna: Nunca Estamos Prontos
Outro reflexo dessa lógica é o mito da "preparação eterna". Muitos passam anos acumulando diplomas, estudando sem parar, esperando o "momento certo" para agir. Mas esse momento nunca chega. O capitalismo nos força a acreditar que nunca estamos prontos o suficiente, nunca sabemos o bastante, nunca temos segurança para arriscar. E assim, procrastinamos nossas vidas inteiras, adiando nossos projetos, nossas paixões e até nossas revoltas.
O medo da falha, a necessidade de validação e a busca por um ideal inatingível nos mantêm imobilizados. O capitalismo se alimenta desse ciclo: vende o sonho, cobra o preço e depois lucra com nossa frustração.
Romper o Ciclo: Agir Apesar do Sistema
A resposta não está em "superar a procrastinação" seguindo as fórmulas de produtividade vendidas por gurus da internet. A solução está em romper com essa lógica tóxica de que tudo precisa ser grandioso, perfeito, lucrativo ou transformador para ter valor.
Pintar porque gosta, tocar um instrumento porque sente prazer, escrever porque é necessário – tudo isso vale por si só, sem precisar se medir com os padrões do mercado ou das redes sociais. Van Gogh não pintava pensando em ser Van Gogh. Ele pintava porque era sua forma de sentir o mundo.
O capitalismo quer nos transformar em máquinas de produtividade, mas nossa resposta pode ser simplesmente criar, viver e experimentar sem a pressão de "ser o melhor". A procrastinação não é um problema individual, mas um sintoma de um sistema que nos sufoca. A solução não está em buscar mais produtividade, mas sim em construir coletivamente formas de viver que não nos exijam a perfeição inatingível que nos paralisa.
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Subcategorias: Desigualdade Social Sociologia Resistência