Walter Benjamin e a Reprodutibilidade da Arte: Cultura de Massa, Fascismo e Revolução

A modernidade chegou como um rolo compressor. De uma geração que se deslocava em bondes puxados a cavalo para uma era de destruição em massa, transporte mecanizado e guerra industrial, a transformação foi radical e inescapável. Walter Benjamin, filósofo marxista e crítico de arte, foi um dos que tentaram entender esse turbilhão. No coração de sua análise estava a questão da reprodutibilidade técnica da arte e o impacto que isso teria sobre a cultura, a política e a forma como os trabalhadores viam o mundo ao seu redor.

Publicado em 28/09/2024

Relativismo, pós-modernidade e a disputa pela verdade

Há um mantra que se espalhou feito mofo em parede úmida: “tudo é relativo”. Quando viramos a esquina da modernidade para a pós-modernidade, a desconfiança virou estilo, a ironia virou método e a certeza virou vergonha. Só que, do ponto de vista de quem luta para derrubar hierarquias materiais — estado, capital, patriarcado, racismo — essa rendição ao “vale tudo” intelectual tem custo político.

Publicado em 01/09/2024

Consciência e Materialismo Histórico: Marx Contra o Dualismo

A consciência humana sempre foi um tema central na filosofia e na política. Mas o que determina nossa consciência? Ela surge espontaneamente dentro de nós ou é moldada pelo mundo em que vivemos? Para Marx, essa questão é essencial dentro da concepção materialista da história e, ao contrário do que muitos pensam, sua resposta rompe tanto com o determinismo mecânico quanto com o idealismo abstrato.

Publicado em 24/06/2024

A Dialética Materialista: Uma Crítica à Tradição Filosófica e ao Capitalismo

A tradição filosófica dominante na Europa até o início da modernidade estava profundamente enraizada na ideia de um mundo além do sensível, um reino de essências imutáveis e substâncias eternas que seriam os verdadeiros objetos do conhecimento. Nessa visão, o movimento e a transformação no mundo fenomênico eram vistos como meras aparências ou como parte de um ciclo predeterminado que não afetava o ser das coisas, sempre idêntico a si mesmo. Essa perspectiva estática começou a ser desafiada com o advento de formas mais dinâmicas de entender a realidade, culminando na filosofia idealista de Hegel.

Publicado em 20/03/2024

A Sociedade do Espetáculo e a Ilusão da Escolha

A sociedade contemporânea está em declínio. Um declínio que pode ser descrito na passagem do "ser" para o "ter" e, depois, do "ter" para o "parecer". Esse é um dos conceitos centrais de A Sociedade do Espetáculo, livro escrito por Guy Debord na década de 1960, que continua sendo um dos melhores retratos da forma como a realidade social se organiza sob o capitalismo.

Mesmo sem citar diretamente o livro, é possível ver o espetáculo em funcionamento ao nosso redor, nos aspectos mais cotidianos da vida. Para entender isso, basta observar como nossa relação com o consumo não se baseia mais na satisfação de necessidades reais, mas sim na criação artificial de desejos.

Publicado em 15/12/2023

O Existencialismo é um Humanismo: Um Chamado à Liberdade Radical

Jean-Paul Sartre, um dos filósofos mais influentes do século XX, defendeu que o ser humano é condenado a ser livre. Essa afirmação sintetiza a essência do existencialismo, corrente filosófica que rejeita essências pré-determinadas e sustenta que cada indivíduo cria seu próprio caminho.

Em sua conferência de 1945, posteriormente publicada como O Existencialismo é um Humanismo, Sartre responde às críticas que acusavam sua filosofia de anti-humanista e niilista. Ele argumenta que, ao contrário, o existencialismo é uma afirmação radical da responsabilidade humana. Se Deus não existe, então não há uma natureza ou destino que determine o que somos – nossa existência precede nossa essência. Não há modelos externos, nem absolutos morais impostos por algo além de nós mesmos. O que nos define são nossas escolhas e ações.

Publicado em 12/09/2023

Malatesta e a Dialética da Organização Anárquica

Quando Errico Malatesta escreveu A Organização I (1897), não estava apenas respondendo a debates internos do anarquismo europeu. Estava tocando num nervo que até hoje paralisa parte do movimento: a confusão entre organização e autoridade. A recusa da organização, vista como garantia contra a tirania, torna-se, ironicamente, um álibi para a inação e, pior, para a reprodução espontânea de hierarquias ocultas.

É preciso colocar isso em chave dialética. A crítica de Malatesta se move entre polos: por um lado, a necessidade ontológica da organização como condição da vida social; por outro, o perigo de cristalizar essa necessidade em estruturas autoritárias. O anarquismo, para ele, não é a negação da organização, mas a construção de sua forma libertária.

Publicado em 11/09/2023

Não, Anarquismo Não É Sobre Caos: É Sobre a Desobediência Legítima

A imagem do caos. O quebra-quebra irracional. A bomba fumegante. Esta é a caricatura que o poder dominante, através de seus aparelhos ideológicos, meticulosamente construiu e vendeu para você sobre o anarquismo. Não é por acaso. Reduzir uma das tradições intelectuais e práticas mais ricas da esquerda a um simples sinônimo de desordem é um ato de contra-insurgência ideológica. É uma manobra covarde para deslegitimar a pergunta mais perigosa que pode ser feita: por que devo obedecer?

A autoridade, em qualquer forma que se apresente, (do Estado ao patrão, do patriarca ao policial) deve carregar eternamente o ônus da prova. Ela deve demonstrar, a cada dia, sua legitimidade e necessidade. Se falhar, deve ser desmantelada. Esta é a proposição fundamental do anarquismo, não um apelo ao vazio, mas sim a uma ordem radicalmente diferente.

Publicado em 07/09/2023

A Gênese Biopolítica do Domínio: Uma Crítica Anarquista

A Biopolítica, na esteira da análise foucaultiana, é o conceito-chave para entender como o poder opera na modernidade tardia. Em termos simples, ela representa a transformação na maneira como as estruturas de domínio controlam a existência humana. Antes, o poder do rei ou do Estado era exercido fundamentalmente pelo direito de tirar a vida — a pena de morte, a guerra, o castigo soberano. Foucault chamou isso de poder de "fazer morrer ou deixar viver".

A Biopolítica, porém, inverte essa lógica. O foco do poder não é mais a morte, mas a gestão da vida. O Estado e o Capital passam a administrar e otimizar a vida das pessoas em escala massiva, tratando a população como uma espécie biológica a ser regulada. O poder agora se define pelo direito de "fazer viver e deixar morrer". Ele se concentra em promover e prolongar a vida (através de políticas de saúde, natalidade, longevidade) apenas na medida em que essa vida é útil e produtiva, reservando o abandono ou a morte (o "deixar morrer") para aqueles que são considerados um risco, um custo ou um desvio. A vida biológica torna-se, assim, um objeto de cálculo e controle.

Publicado em 13/06/2023