Se há um conceito psicanalítico que ecoa como uma navalha na carne da experiência cotidiana, esse conceito é o gozo em Lacan. E não é à toa que ele é um dos mais discutidos e debatidos na psicanálise: ele revela algo profundamente incômodo sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos.
A religião é um fenômeno quase universal na história humana, presente em praticamente todas as culturas e sociedades. No entanto, uma minoria significativa de pessoas — os ateus — não sente a necessidade de acreditar em um Deus tradicional ou em qualquer força sobrenatural que explique a origem do universo. Por que essa diferença? Seriam os ateus mais inteligentes, mais esclarecidos ou psicologicamente mais maduros? Ou há algo mais profundo, talvez biológico, que explica essa divergência? Morton Hunt, em seu texto As Raízes Biológicas da Religião, explora essas questões, oferecendo uma análise fascinante sobre as origens evolutivas da religião e as possíveis razões pelas quais os ateus são diferentes da maioria da humanidade.
A palavra dialética ronda os círculos da esquerda como um fantasma familiar. Todos a citam, muitos a invocam, mas poucos se dedicam a desemaranhar seus fios históricos. Ela é mais antiga, mais complexa e mais insidiosa do que o “materialismo dialético” de Marx pode sugerir.
Compreender a dialética em sua raiz é essencial para que não reproduzamos, mesmo sem querer, lógicas autoritárias e hierárquicas que buscamos combater. A dialética não é uma ferramenta neutra, mas uma forma de ver o mundo — um hábito cultural enraizado na história do pensamento ocidental, capaz tanto de servir à liberação quanto à dominação.
A modernidade chegou como um rolo compressor. De uma geração que se deslocava em bondes puxados a cavalo para uma era de destruição em massa, transporte mecanizado e guerra industrial, a transformação foi radical e inescapável. Walter Benjamin, filósofo marxista e crítico de arte, foi um dos que tentaram entender esse turbilhão. No coração de sua análise estava a questão da reprodutibilidade técnica da arte e o impacto que isso teria sobre a cultura, a política e a forma como os trabalhadores viam o mundo ao seu redor.
Há um mantra que se espalhou feito mofo em parede úmida: “tudo é relativo”. Quando viramos a esquina da modernidade para a pós-modernidade, a desconfiança virou estilo, a ironia virou método e a certeza virou vergonha. Só que, do ponto de vista de quem luta para derrubar hierarquias materiais — estado, capital, patriarcado, racismo — essa rendição ao “vale tudo” intelectual tem custo político.
A consciência humana sempre foi um tema central na filosofia e na política. Mas o que determina nossa consciência? Ela surge espontaneamente dentro de nós ou é moldada pelo mundo em que vivemos? Para Marx, essa questão é essencial dentro da concepção materialista da história e, ao contrário do que muitos pensam, sua resposta rompe tanto com o determinismo mecânico quanto com o idealismo abstrato.
A tradição filosófica dominante na Europa até o início da modernidade estava profundamente enraizada na ideia de um mundo além do sensível, um reino de essências imutáveis e substâncias eternas que seriam os verdadeiros objetos do conhecimento. Nessa visão, o movimento e a transformação no mundo fenomênico eram vistos como meras aparências ou como parte de um ciclo predeterminado que não afetava o ser das coisas, sempre idêntico a si mesmo. Essa perspectiva estática começou a ser desafiada com o advento de formas mais dinâmicas de entender a realidade, culminando na filosofia idealista de Hegel.
A sociedade contemporânea está em declínio. Um declínio que pode ser descrito na passagem do "ser" para o "ter" e, depois, do "ter" para o "parecer". Esse é um dos conceitos centrais de A Sociedade do Espetáculo, livro escrito por Guy Debord na década de 1960, que continua sendo um dos melhores retratos da forma como a realidade social se organiza sob o capitalismo.
Mesmo sem citar diretamente o livro, é possível ver o espetáculo em funcionamento ao nosso redor, nos aspectos mais cotidianos da vida. Para entender isso, basta observar como nossa relação com o consumo não se baseia mais na satisfação de necessidades reais, mas sim na criação artificial de desejos.
Jean-Paul Sartre, um dos filósofos mais influentes do século XX, defendeu que o ser humano é condenado a ser livre. Essa afirmação sintetiza a essência do existencialismo, corrente filosófica que rejeita essências pré-determinadas e sustenta que cada indivíduo cria seu próprio caminho.
Em sua conferência de 1945, posteriormente publicada como O Existencialismo é um Humanismo, Sartre responde às críticas que acusavam sua filosofia de anti-humanista e niilista. Ele argumenta que, ao contrário, o existencialismo é uma afirmação radical da responsabilidade humana. Se Deus não existe, então não há uma natureza ou destino que determine o que somos – nossa existência precede nossa essência. Não há modelos externos, nem absolutos morais impostos por algo além de nós mesmos. O que nos define são nossas escolhas e ações.
A imagem do caos. O quebra-quebra irracional. A bomba fumegante. Esta é a caricatura que o poder dominante, através de seus aparelhos ideológicos, meticulosamente construiu e vendeu para você sobre o anarquismo. Não é por acaso. Reduzir uma das tradições intelectuais e práticas mais ricas da esquerda a um simples sinônimo de desordem é um ato de contra-insurgência ideológica. É uma manobra covarde para deslegitimar a pergunta mais perigosa que pode ser feita: por que devo obedecer?
A autoridade, em qualquer forma que se apresente, (do Estado ao patrão, do patriarca ao policial) deve carregar eternamente o ônus da prova. Ela deve demonstrar, a cada dia, sua legitimidade e necessidade. Se falhar, deve ser desmantelada. Esta é a proposição fundamental do anarquismo, não um apelo ao vazio, mas sim a uma ordem radicalmente diferente.