O fascismo nunca desapareceu – ele apenas trocou as botas por ternos bem cortados. No capítulo 3 de Antifa: O Manual Antifascista, o historiador Mark Bray analisa como a extrema-direita se adaptou aos tempos modernos, abandonando o estereótipo do skinhead violento e assumindo uma postura mais "respeitável". Agora, os fascistas não marcham apenas nas ruas – eles ocupam cadeiras no parlamento, manipulam a mídia e espalham sua ideologia através de intelectuais e influenciadores.
Mas se o fascismo mudou de tática, o antifascismo também precisou evoluir. O que antes era um enfrentamento direto contra gangues neonazistas agora se tornou uma luta contra partidos políticos, think tanks e figuras públicas que, sob o disfarce de conservadorismo e nacionalismo, promovem o mesmo discurso de ódio, racismo e autoritarismo.
O fascismo não morreu. Ele apenas se metamorfoseou — trocou as botas militares por ternos de grife, substituiu os discursos inflamados em praça pública por algoritmos de redes sociais e think tanks financiados por bilionários. Mas sua essência permanece a mesma: o culto à autoridade, o ódio à liberdade e a obsessão por controlar os corpos e as mentes.
Umberto Eco, em O Fascismo Eterno, nos oferece uma bússola para navegar esse pesadelo político. Não se trata apenas de lembrar Mussolini ou Hitler, mas de reconhecer os traços do fascismo em qualquer época, em qualquer lugar — inclusive no presente. Como anarquistas, sabemos que o Estado, o capital e a hierarquia são os pilares que sustentam essa máquina de opressão. E, como diria Malatesta, o fascismo é a face mais brutal do Estado quando ele se sente ameaçado.
Abaixo, desmontamos as 14 características do Ur-Fascismo, não como um exercício acadêmico, mas como um manual de sobrevivência. Porque, como bem lembrava Lucy Parsons: "Nunca implore por justiça. Pegue-a."
Desde Hobbes até Rousseau, passando por Locke e Rawls, a teoria do Contrato Social tem sido utilizada para justificar a existência do Estado e das estruturas de poder. Mas será que esse "contrato" realmente foi assinado por todos? Ou ele serve apenas para legitimar a submissão e a exploração?
A ideia central do Contrato Social é que os indivíduos, ao abrirem mão de parte de sua liberdade, ganham em troca segurança e ordem. Mas o que acontece quando esse contrato não é justo, quando beneficia apenas uma elite e impõe obediência forçada à maioria?
Falar de anarquismo sempre causa um certo impacto. Para muita gente, a ideia de uma sociedade sem governo soa como caos absoluto, mas isso só acontece porque fomos condicionados a pensar que a única forma de organização possível é aquela baseada em hierarquias rígidas e instituições centralizadoras. No entanto, a história e a teoria anarquista mostram que existe outro caminho.
Quem decide o que aprendemos na escola? Quem definiu que nos Estados Unidos só existem dois partidos "opostos", mas que no fundo servem aos mesmos interesses? Quem resolveu que Cristóvão Colombo, um colonizador genocida, deveria ser celebrado? E quando se tornou um sacrilégio ajoelhar-se durante o hino nacional para protestar contra a violência estatal?
Essas perguntas não são triviais. Suas respostas revelam os valores que foram impostos pela classe dominante, que nos doutrina desde a infância a aceitar o sistema como "natural" e "inevitável". Esse fenômeno tem nome: hegemonia cultural.
René Girard (1923-2015) foi um pensador francês cuja teoria atravessa diversas disciplinas, indo da mitologia à crítica literária, da antropologia à psicologia. Sua grande questão é uma que ecoa por toda a história da humanidade: como e por que a cultura emergiu? Para Girard, a resposta está na violência, no desejo mimético e no sacrifício. O que, à primeira vista, parece um estudo abstrato sobre mitos e religião, na verdade, toca em questões centrais sobre poder, dominação e a forma como sociedades se estruturam e se perpetuam – temas que, do ponto de vista anarquista, precisam ser desmontados e desmistificados.
Mikhail Bakunin, um dos mais influentes teóricos do anarquismo, não economizou palavras ao denunciar a aliança entre Igreja e Estado como os principais pilares da dominação sobre a humanidade. Para ele, ambas as instituições não passam de abstrações criadas para mascarar o verdadeiro objetivo: manter o controle sobre a sociedade, perpetuar a desigualdade e impedir qualquer possibilidade de emancipação real.
Em tempos em que o poder do Estado se fortalece sob justificativas democráticas e a Igreja se reinventa para continuar influenciando a moral social, a crítica de Bakunin permanece mais atual do que nunca.
Quem somos nós? A identidade que carregamos é real ou apenas uma construção imposta pelo mundo? O psicanalista Jacques Lacan, influenciado por Freud, trouxe em 1936 uma teoria que desafia a ideia de um "eu" unificado e autêntico. Para ele, a identidade que acreditamos ter é uma ilusão—um reflexo que esconde nossa verdadeira subjetividade.
A discussão sobre hierarquia é uma das mais recorrentes dentro do debate político e filosófico. Definir anarquismo como a oposição a todas as estruturas de poder hierárquicas inevitavelmente levanta questões sobre o que significa "hierarquia" e se essa oposição é justificada. Além disso, há o discurso popularizado por figuras como Jordan Peterson, que defendem a hierarquia como algo natural e inevitável.
O anarquismo não é só um conjunto de ideias, mas uma prática de transformação do mundo. É um movimento político que busca construir uma sociedade baseada na liberdade, na igualdade e na solidariedade, sem coerção e dominação. Diferente do que muita gente pensa, o anarquismo não é sinônimo de caos – pelo contrário, é uma organização social baseada na autogestão e na cooperação voluntária.