Um episódio banal expõe uma doença de época. Num grupo de WhatsApp, uma mulher em posição de liderança sofre um ataque gordofóbico. A mensagem fica lá, horas, à vista. Ninguém reage. Mais tarde, surgem as justificativas em coro: “vi, mas já era tarde”; “perdi o timing”.
Publicado em 28/10/2025
“Certo. Então todo mundo odeia trabalho.”
Com essa frase direta, a pensadora Neala Schleuning abre seu texto “A Abolição do Trabalho e Outros Mitos” com um diagnóstico brutalmente honesto. A aversão ao trabalho parece ser um traço quase universal. Sonhamos com um futuro livre de obrigações, um mundo em que máquinas realizem todo o esforço e possamos viver no ócio — o eterno sonho do gafanhoto libertado da disciplina da formiga.
Mas Schleuning nos convida a olhar para esse desejo com desconfiança. E se essa fantasia de “libertação pelo ócio” for, na verdade, uma armadilha? E se o verdadeiro caminho para a liberdade não estiver na abolição do trabalho, mas em sua transformação radical — na retomada de seu sentido humano, comunitário e criativo?
O que ela propõe é uma virada de perspectiva: não fugir do trabalho, mas recuperar o controle sobre ele. Este ensaio explora as ideias mais provocativas de Schleuning, articulando-as em torno de uma distinção crucial — a diferença entre a labuta e o bom trabalho. A partir dessa chave, compreenderemos por que o problema não é o esforço em si, mas o sistema que o esvazia de sentido.
Publicado em 28/01/2025
Revisitar teorias estabelecidas é um exercício essencial para quem busca uma perspectiva libertária e transformadora. A influente hierarquia das necessidades de Abraham Maslow, embora muitas vezes capturada em uma representação piramidal simplista, oferece uma oportunidade crítica para refletirmos sobre o que bloqueia a realização plena do ser humano: o próprio capitalismo.
Publicado em 29/04/2019
A noção de estrutura é fundamental no marxismo, pois define o que é necessário e inescapável em um dado sistema social. A incompreensão desse conceito gera inúmeros equívocos, seja por parte das vertentes pós-modernas, seja pelos próprios marxistas que difundem uma visão distorcida do materialismo histórico.
Para começar, é crucial entender o que estrutura não é:
- Não é apenas o local de produção. A estrutura do capitalismo envolve não apenas a produção, mas também mercado, circulação, juros, renda e acumulação de capital.
- Não é um princípio causal mecânico. A estrutura não determina rigidamente todas as outras esferas da realidade, mas as condiciona.
- Não é um critério classificatório. A estrutura não hierarquiza a realidade em “mais” ou “menos” importante. Seu papel é mostrar o que é necessário para que a sociedade funcione daquela forma.
Publicado em 11/04/2019
“Não se trata de reformar a escola — trata-se de destruir a escola que ensina a obediência e fundar outra que ensine a liberdade.”
No início do século XX, enquanto o mundo se deslumbrava com a promessa vazia das repúblicas burguesas e dos progressismos de fachada, o educador catalão Francesc Ferrer i Guàrdia propôs uma revolução diferente. Percebendo que as revoluções políticas haviam fracassado em libertar o ser humano, Ferrer enxergou que a verdadeira transformação não nasceria das armas, mas das escolas. Sua proposta, condensada no Manifesto da Escola Moderna, representa uma das mais radicais expressões do pensamento anarquista do século XX: fazer da educação o campo de batalha central contra o autoritarismo, o dogma e o privilégio.
Publicado em 23/02/2016
O amor materno, essa ideia romantizada e vendida como um instinto natural, é na verdade um construto social que reflete a necessidade do capitalismo de manter corpos produtivos e reprodutivos em ordem. Desde cedo, a mulher é condicionada a acreditar que seu papel primordial é gestar, nutrir e proteger. Mas o que acontece quando essa narrativa não se sustenta?
Publicado em 29/03/2015