Esquerda e Direita: Rótulos Vazios em um Mundo de Controle

A sociedade ama rótulos. Eles facilitam a ilusão de que o caos político pode ser ordenado em caixinhas bem definidas. "Esquerda" e "direita" são dois dos termos mais usados para descrever posições políticas, mas são também os mais vazios de significado real. No final das contas, são apenas construções discursivas utilizadas para reforçar o controle sobre nossas mentes e perpetuar estruturas de domínio.

Publicado em 21/10/2016

Fronteiras: A Violência dos Estados e a Luta por um Mundo Sem Muros

Quantas pessoas, neste exato momento, estão deslocadas? Quantas buscam refúgio em outro país, emprego em outra terra, fugindo da violência, da miséria, do colapso climático ou de guerras causadas pelos interesses dos mais ricos? Quantas foram obrigadas a partir porque suas casas, suas terras e seus meios de subsistência foram saqueados por corporações e governos imperialistas?

O número é esmagador: mais de 1 bilhão de migrantes no mundo. Desses, 80 milhões são deslocados à força, incluindo 45,7 milhões que permanecem dentro de seus próprios países, mas sem acesso a um lar seguro. Aproximadamente 45% dos deslocados são menores de 18 anos. Se a população mundial gira em torno de 7 bilhões, isso significa que 1 em cada 7 pessoas no planeta é um migrante.

Para se ter uma noção do impacto, há mais migrantes na Terra do que a população combinada dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Japão. No entanto, a resposta dos países mais ricos a essa crise tem sido construir muros e endurecer suas fronteiras, enquanto continuam explorando os países dos quais essas pessoas fogem.

Publicado em 20/08/2016

A Paralisia da Ação: Como o Capitalismo Coloniza o Corpo, a Emoção e a Vontade

Há algo de profundamente doente em nossa relação com o tempo, com o desejo e com a própria ação. Vivemos numa era em que quase todos sabem o que fazer; mas poucos conseguem, de fato, fazer. Não se trata de mera preguiça, como adoram repetir os gurus da produtividade e os gestores da moral neoliberal. O que chamamos de “procrastinação”, “falta de foco” ou “indisciplina” é, na verdade, um sintoma político e psicológico de um mundo que sequestrou nossa energia vital, transformando-a em engrenagem para o lucro.

O capitalismo não apenas explora o nosso trabalho; ele captura também a nossa capacidade de agir. Nos treina para desejar, mas não para mover. Para planejar, mas não para transformar. Para pensar em liberdade, mas agir em conformidade. A paralisia da ação é, portanto, o espelho íntimo de uma sociedade paralisada por dentro. Uma sociedade em que a vida foi reduzida a desempenho, e o corpo, a máquina de produtividade.

Publicado em 28/06/2016

O Medo do Afeto e a Ilusão do Controle: A Racionalidade Como Instrumento de Dominação

Vivemos sob o domínio de um sistema que nos ensina a temer nossos próprios afetos. O capitalismo, em sua ânsia por controle e eficiência, nos quer disciplinados, produtivos, racionais. Nos quer engrenagens de uma máquina, não seres humanos vibrantes, emocionados, afetados uns pelos outros. E isso não é de hoje. Há séculos, a lógica ocidental tem tentado submeter as paixões à razão, criando uma dicotomia entre pensamento e sentimento, mente e corpo, masculinidade e feminilidade.

Publicado em 22/02/2016

A Procrastinação e o Super-Ego Capitalista: Como o Sistema Nos Paralisa

Nos vendem a ilusão de que podemos ser tudo. "Se esforce e conquiste!" dizem. Mas, quando nos deparamos com a realidade, percebemos que não seremos um novo Steve Jobs, uma estrela do rock ou um líder revolucionário aclamado por multidões. Então, o que fazemos? Paramos. Travamos. Procrastinamos.

A cultura do capitalismo tardio enfiou na nossa cabeça que, se não somos os melhores, então não valemos nada. Mas essa é uma lógica cruel, construída para nos manter frustrados e alienados, sempre buscando uma perfeição inatingível e nos sentindo incapazes. O capitalismo cria ícones inalcançáveis – gênios, milionários, artistas prodígios – e nos força a comparar nossas vidas ordinárias com esses mitos. E, quando falhamos nessa comparação, nos paralisamos.

Publicado em 13/07/2015

A Solidão Masculina e a Mentira da Virilidade

Vivemos em uma sociedade que nos ensina, desde cedo, que ser homem significa ser forte, inabalável, impenetrável. A masculinidade é vendida como um pacote fechado, onde não há espaço para fraqueza, para vulnerabilidade, para algo que se aproxime daquilo que nos torna humanos. E o resultado disso? Homens solitários, incapazes de construir laços verdadeiros, aprisionados em suas próprias muralhas emocionais.

Sim, existem exceções. Existem companheiros que desafiam essa norma, que sabem o que é intimidade, que constroem relações de camaradagem e afeto. Mas sejamos realistas: a amizade entre homens, da forma como deveria ser – genuína, profunda, baseada na partilha de dores e sonhos –, é um fenômeno raro. Para cada homem que pode dizer que tem um verdadeiro amigo, há pelo menos oito que, no fundo, sabem que não têm.

Isso não é um fracasso individual. Não é sobre um ou outro ser menos capaz de se conectar. É um sintoma de algo maior, um reflexo direto de um conflito estrutural: o que a sociedade exige que um homem seja está em contradição com o que é necessário para cultivar uma amizade autêntica.

Publicado em 14/09/2014

Contrato Social: Pacto ou Prisão?

Desde Hobbes até Rousseau, passando por Locke e Rawls, a teoria do Contrato Social tem sido utilizada para justificar a existência do Estado e das estruturas de poder. Mas será que esse "contrato" realmente foi assinado por todos? Ou ele serve apenas para legitimar a submissão e a exploração?

A ideia central do Contrato Social é que os indivíduos, ao abrirem mão de parte de sua liberdade, ganham em troca segurança e ordem. Mas o que acontece quando esse contrato não é justo, quando beneficia apenas uma elite e impõe obediência forçada à maioria?

Publicado em 15/10/2013

O Eu Contra Si Mesmo: A Luta Interna e a Sociedade do Controle

O eu está sempre em guerra consigo mesmo. Essa é a condição fundamental da existência humana: o conflito interno, a tensão entre desejo e repressão, entre impulso e ideal, entre aquilo que queremos e aquilo que nos é imposto. A ideia de um eu unificado, coerente, que caminha sempre ao lado de si mesmo, não passa de uma ficção conveniente, uma ilusão imposta pelo discurso dominante.

Publicado em 03/07/2013

A Hegemonia Cultural: Como o Capitalismo Nos Convence a Nos Explorar

Quem decide o que aprendemos na escola? Quem definiu que nos Estados Unidos só existem dois partidos "opostos", mas que no fundo servem aos mesmos interesses? Quem resolveu que Cristóvão Colombo, um colonizador genocida, deveria ser celebrado? E quando se tornou um sacrilégio ajoelhar-se durante o hino nacional para protestar contra a violência estatal?

Essas perguntas não são triviais. Suas respostas revelam os valores que foram impostos pela classe dominante, que nos doutrina desde a infância a aceitar o sistema como "natural" e "inevitável". Esse fenômeno tem nome: hegemonia cultural.

Publicado em 02/05/2013

René Girard e a Violência como Fundamento da Cultura: Uma Crítica Anarquista

René Girard (1923-2015) foi um pensador francês cuja teoria atravessa diversas disciplinas, indo da mitologia à crítica literária, da antropologia à psicologia. Sua grande questão é uma que ecoa por toda a história da humanidade: como e por que a cultura emergiu? Para Girard, a resposta está na violência, no desejo mimético e no sacrifício. O que, à primeira vista, parece um estudo abstrato sobre mitos e religião, na verdade, toca em questões centrais sobre poder, dominação e a forma como sociedades se estruturam e se perpetuam – temas que, do ponto de vista anarquista, precisam ser desmontados e desmistificados.


Publicado em 07/03/2013