O Inferno do Mesmo: Notas sobre Byung-Chul Han e a Auto-Exploração como Nova Morfologia do Poder
A diagnose de Byung-Chul Han é precisa como um bisturi e, para nós, anarquistas, profundamente familiar em sua descrição do sintoma, ainda que radicalmente divergente em sua prescrição. Han identifica com clareza a mutação do poder disciplinar descrito por Foucault – a sociedade do “não”, da norma, da interdição e do confinamento – para a sociedade de rendimento do “sim”. Uma sociedade que já não precisa de um tirano externo, pois cada indivíduo se tornou o capataz de si mesmo.
Este é o triunfo final e mais perverso da biopolítica: a internalização completa do mecanismo de exploração. O projeto anarquista clássico, centrado na luta contra um opressor identificável – o Estado, o Capital, o Patrão – vê-se diante de um novo e mais insidioso inimigo: o sujeito de rendimento. A liberdade, gritada como mantra pelo neoliberalismo, revela-se aqui em sua nudez obscena: é a liberdade de se explorar até o colapso neuronal. A coerção não desapareceu; tornou-se idêntica à própria noção de liberdade. Este é o cerne da nova servidão voluntária.
Publicado em 11/10/2024