Se há um conceito psicanalítico que ecoa como uma navalha na carne da experiência cotidiana, esse conceito é o gozo em Lacan. E não é à toa que ele é um dos mais discutidos e debatidos na psicanálise: ele revela algo profundamente incômodo sobre nós mesmos e sobre o mundo em que vivemos.
Publicado em 04/01/2025
O legado de Ivan Pavlov (1849-1936), originalmente fincado nos estudos sobre os reflexos digestivos caninos, transcende os limites do laboratório para iluminar mecanismos sutis de controle comportamental na sociedade. Sua descoberta seminal do condicionamento clássico—o processo pelo qual um estímulo neutro, repetidamente associado a um estímulo incondicionado, passa a evocar uma resposta condicionada—oferece uma lente perspicaz para analisar a internalização de normas e ritmos no ambiente produtivo. Se nos experimentos pavlovianos os cães salivavam ao som de um sino prenunciando a alimentação, na esfera social contemporânea, observamos a internalização de comportamentos reflexivos que moldam a experiência da classe trabalhadora, muitas vezes à revelia da crítica consciente.
Publicado em 29/10/2021
O capitalismo não é apenas um sistema econômico. É uma máquina de moer corpos e forjar subjetividades doentes. Exaustão e ansiedade não são desvios – são efeitos colaterais estruturais de uma lógica que exige rendimento infinito, produtividade sem limites e autoexploração disfarçada de liberdade.
Vivemos sob um regime onde o poder não mais proíbe – exige. Não mais castiga – motiva. A frase “Yes, we can!”, que antes carregava promessas de emancipação, virou um imperativo cruel: se você não consegue, a culpa é sua.
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, nos mostra que deixamos para trás a sociedade da disciplina – do “não pode!” – e entramos na era da positividade, onde nasce o sujeito de desempenho: alguém que não é mais dominado por outro, mas por si mesmo. Somos ao mesmo tempo o chefe e o capataz, o explorador e o explorado. E quando colapsamos, quando não damos conta, ainda nos culpamos por isso. A isso, Han chama de violência neuronal – uma forma de violência que não vem de fora, mas brota de dentro de nós mesmos.
Publicado em 14/11/2015
O 1º de Maio, hoje reduzido a um feriado domesticado por governos e sindicatos institucionais, carrega em suas raízes um levante anarquista e insurrecional. A data, celebrada globalmente como "Dia do Trabalho", não nasceu de decretos ou acordos políticos, mas das ruas de Chicago, onde trabalhadores armados de faixas e sonhos libertários desafiaram o capital em 1886. A história oficial apaga, mas nós lembramos: o 1º de Maio é filho da bomba de Haymarket, da traição do Estado e do sangue dos mártires que ousaram lutar por "8 horas para viver, 8 horas para dormir, 8 horas para o que quisermos".
Publicado em 21/11/2013
No coração do sistema capitalista, há uma mercadoria que não se parece com nenhuma outra: a força de trabalho. À primeira vista, pode parecer um conceito simples, mas, como Marx demonstrou, ele é um dos mais complexos e revolucionários de sua crítica à economia política. A força de trabalho não é apenas uma mercadoria; é a chave para entender como o capitalismo funciona, como o valor é produzido e como a exploração se sustenta.
Publicado em 09/09/2013