Cultura, Poder e Capital: A Visão de Pierre Bourdieu

Vivemos em um mundo onde a cultura não é simplesmente uma escolha individual, mas um campo de disputa que nos molda e nos define. Pierre Bourdieu, sociólogo francês, desmascarou a ilusão de que nossos gostos e preferências são apenas fruto de uma subjetividade livre. Na verdade, são influenciados por nossa posição social, nossa educação e pelos círculos em que transitamos. Em outras palavras, não escolhemos a cultura — ela nos escolhe.

Bourdieu identificou que nossa visão de mundo e nossas preferências são formadas desde cedo, absorvidas inconscientemente. Esse processo ocorre através do que ele chamou de habitus, um conjunto de disposições que carregamos e que guiam nossa maneira de agir e interpretar o mundo. Nosso gosto musical, nossa forma de falar, os livros que lemos ou deixamos de ler — tudo isso não é apenas pessoal, mas socialmente determinado.

Publicado em 09/12/2022

Os Sinos do Capital e a Condição Pavloviana da Classe Trabalhadora: Uma Análise Crítica do Condicionamento no Contexto da Exploração

O legado de Ivan Pavlov (1849-1936), originalmente fincado nos estudos sobre os reflexos digestivos caninos, transcende os limites do laboratório para iluminar mecanismos sutis de controle comportamental na sociedade. Sua descoberta seminal do condicionamento clássico—o processo pelo qual um estímulo neutro, repetidamente associado a um estímulo incondicionado, passa a evocar uma resposta condicionada—oferece uma lente perspicaz para analisar a internalização de normas e ritmos no ambiente produtivo. Se nos experimentos pavlovianos os cães salivavam ao som de um sino prenunciando a alimentação, na esfera social contemporânea, observamos a internalização de comportamentos reflexivos que moldam a experiência da classe trabalhadora, muitas vezes à revelia da crítica consciente.

Publicado em 29/10/2021

Albert Bandura sob uma Lente Anarquista: Aprendizagem, Controle Social e o Mito da Autonomia

Albert Bandura é uma figura incontornável na psicologia moderna. Suas teorias sobre a aprendizagem social, a autoeficácia e o modelamento do comportamento moldaram parte significativa da educação, da psicoterapia e até das estratégias de propaganda corporativa.

Bandura, ao contrário dos behavioristas clássicos, reconheceu a importância da cognição na aprendizagem. Não somos apenas produtos de reforços externos; observamos, imitamos, internalizamos. Há liberdade? Há agência? Talvez. Mas, numa sociedade capitalista e hierárquica, essas mesmas capacidades se tornam armas contra nós mesmos. Bandura forneceu, ainda que sem intenção explícita, o manual para uma forma mais sofisticada de controle social.

Publicado em 28/04/2021

Errico Malatesta: Estratégia e Organização na Revolução Anarquista

Errico Malatesta (1853–1932), um dos teóricos mais influentes do anarquismo, dedicou sua vida a pensar como uma revolução libertária poderia acontecer sem trair seus princípios. Em Escritos Revolucionários, combateu tanto o reformismo quanto as tentações autoritárias dentro da esquerda, defendendo uma revolução ética, organizada e radicalmente antiautoritária. Seus textos rebatem a crítica comum de que o anarquismo carece de direção estratégica.

Essa defesa da liberdade construída “de baixo pra cima” ecoa também nas palavras de Étienne de La Boétie, que, no Discurso sobre a Servidão Voluntária, pergunta por que as pessoas consentem em ser governadas por tiranos — e afirma que a verdadeira liberdade só pode surgir do rechaço ativo às estruturas de dominação.

Publicado em 19/06/2018

A Linguagem da Resistência: Explorando a Simbologia Anarquista

A simbologia anarquista é uma forma poderosa de comunicação visual, carregada de significados históricos e filosóficos. Desde bandeiras até ícones gráficos, esses símbolos representam não apenas a rejeição à opressão, mas também a construção de ideais como autonomia, solidariedade e liberdade. Neste post, exploramos os principais símbolos do anarquismo, suas origens e o que eles significam para o movimento.

Publicado em 02/05/2014

Milícias em uma Sociedade Anarquista: Autodefesa, Não Dominação

No imaginário de muitas pessoas, qualquer forma de organização armada traz o risco de uma nova estrutura de domínio e poder coercitivo. Essa preocupação se justifica em um mundo onde a violência institucionalizada sempre foi um dos pilares do Estado e do capitalismo. No entanto, dentro de uma sociedade anarquista, a existência de milícias não seria um caminho para a retomada do poder, pois o conceito de poder nesse contexto é radicalmente diferente.

Para entender por que isso seria improvável em um modelo anarquista, é preciso analisar os princípios estruturais e éticos que sustentariam essa sociedade.

Publicado em 05/08/2013

A Hegemonia Cultural: Como o Capitalismo Nos Convence a Nos Explorar

Quem decide o que aprendemos na escola? Quem definiu que nos Estados Unidos só existem dois partidos "opostos", mas que no fundo servem aos mesmos interesses? Quem resolveu que Cristóvão Colombo, um colonizador genocida, deveria ser celebrado? E quando se tornou um sacrilégio ajoelhar-se durante o hino nacional para protestar contra a violência estatal?

Essas perguntas não são triviais. Suas respostas revelam os valores que foram impostos pela classe dominante, que nos doutrina desde a infância a aceitar o sistema como "natural" e "inevitável". Esse fenômeno tem nome: hegemonia cultural.

Publicado em 02/05/2013