Estrutura no Marxismo

A noção de estrutura é fundamental no marxismo, pois define o que é necessário e inescapável em um dado sistema social. A incompreensão desse conceito gera inúmeros equívocos, seja por parte das vertentes pós-modernas, seja pelos próprios marxistas que difundem uma visão distorcida do materialismo histórico.

Para começar, é crucial entender o que estrutura não é:

  • Não é apenas o local de produção. A estrutura do capitalismo envolve não apenas a produção, mas também mercado, circulação, juros, renda e acumulação de capital.
  • Não é um princípio causal mecânico. A estrutura não determina rigidamente todas as outras esferas da realidade, mas as condiciona.
  • Não é um critério classificatório. A estrutura não hierarquiza a realidade em “mais” ou “menos” importante. Seu papel é mostrar o que é necessário para que a sociedade funcione daquela forma.

Publicado em 11/04/2019

Deus Está Morto, Mas Ele Não Sabe

"Deus está morto", mas e se ele ainda não soubesse disso? Slavoj Žižek nos provoca com essa ideia ao reinterpretar o conceito de Nietzsche sob a ótica da psicanálise lacaniana. Se a modernidade proclamou o fim da tutela divina e a libertação do homem, por que ainda permanecemos presos a novas formas de servidão?

A resposta de Lacan é inquietante: a morte de Deus não significa o fim da crença, mas sua migração para o inconsciente. O que nos governa não é mais um Deus visível, mas um Deus morto-vivo, um grande Outro simbólico que dita nossas ações sem que percebamos.

Publicado em 25/01/2019

A armadilha do identitarismo e o avanço do fascismo: uma reflexão necessária

Vivemos tempos confusos, em que a política parece cada vez mais um jogo de espelhos onde a direita distorce a realidade para criar inimigos imaginários e justificar seu avanço. No meio dessa guerra ideológica, muitas pessoas, mesmo aquelas que não compactuam com a extrema direita, acabam comprando a narrativa de que as pautas progressistas e identitárias estão "destruindo a sociedade". Mas de onde vem essa ideia?

Publicado em 08/04/2018

Democracia, Capitalismo e a Tirania da Maioria: O Alerta de Tocqueville

Quando Alexis de Tocqueville publicou Democracia na América em 1835, sua intenção não era apenas louvar o modelo democrático dos Estados Unidos, mas também expor suas contradições e seus perigos. Diferente dos liberais otimistas, Tocqueville percebeu que a democracia burguesa não era apenas um sistema de igualdade política, mas também um terreno fértil para novas formas de opressão. Ele identificou cinco problemas centrais, que continuam ressoando no presente, especialmente na fusão entre democracia e capitalismo.

Publicado em 12/09/2017

Certo e Errado: A Ética Como Campo de Batalha

A questão do que é certo e errado não é apenas um debate filosófico abstrato – ela define como vivemos e lutamos no mundo. A ética não é uma torre de marfim onde intelectuais debatem termos vazios, mas um campo de batalha onde diferentes valores entram em conflito, moldando decisões sobre guerra, desigualdade, exploração e resistência.

Publicado em 20/06/2016

O Medo do Afeto e a Ilusão do Controle: A Racionalidade Como Instrumento de Dominação

Vivemos sob o domínio de um sistema que nos ensina a temer nossos próprios afetos. O capitalismo, em sua ânsia por controle e eficiência, nos quer disciplinados, produtivos, racionais. Nos quer engrenagens de uma máquina, não seres humanos vibrantes, emocionados, afetados uns pelos outros. E isso não é de hoje. Há séculos, a lógica ocidental tem tentado submeter as paixões à razão, criando uma dicotomia entre pensamento e sentimento, mente e corpo, masculinidade e feminilidade.

Publicado em 22/02/2016

A Navalha de Occam: Um Corte Contra a Complexidade Desnecessária

No pensamento libertário e anarquista, desfazer-se de dogmas e estruturas opressivas é essencial. Guilherme de Occam, filósofo e teólogo do século XIV, trouxe uma ferramenta filosófica que se mantém atual: a Navalha de Occam, princípio que afirma que as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade. Em outras palavras, entre duas explicações igualmente eficazes, a mais simples deve ser preferida.

Publicado em 26/12/2015

Capitalismo e a Epidemia da Ansiedade: Uma Crítica Anarquista

O capitalismo não é apenas um sistema econômico. É uma máquina de moer corpos e forjar subjetividades doentes. Exaustão e ansiedade não são desvios – são efeitos colaterais estruturais de uma lógica que exige rendimento infinito, produtividade sem limites e autoexploração disfarçada de liberdade.

Vivemos sob um regime onde o poder não mais proíbe – exige. Não mais castiga – motiva. A frase “Yes, we can!”, que antes carregava promessas de emancipação, virou um imperativo cruel: se você não consegue, a culpa é sua.

O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, nos mostra que deixamos para trás a sociedade da disciplina – do “não pode!” – e entramos na era da positividade, onde nasce o sujeito de desempenho: alguém que não é mais dominado por outro, mas por si mesmo. Somos ao mesmo tempo o chefe e o capataz, o explorador e o explorado. E quando colapsamos, quando não damos conta, ainda nos culpamos por isso. A isso, Han chama de violência neuronal – uma forma de violência que não vem de fora, mas brota de dentro de nós mesmos.

Publicado em 14/11/2015

A Ilusão do Sufrágio Universal: Uma Crítica Anarquista por Mikhail Bakunin

No início do século XIX, Mikhail Bakunin, um dos pensadores mais radicais e provocadores do anarquismo, já alertava sobre as promessas não cumpridas da democracia representativa e do sufrágio universal. Em seu texto A Ilusão do Sufrágio Universal, Bakunin desmonta a ideia de que o voto e a participação em eleições são capazes de garantir a liberdade e a justiça social. Para ele, o sufrágio universal é uma ilusão que, longe de emancipar o povo, acaba por reforçar as estruturas de dominação e opressão.

Publicado em 30/10/2015

A Procrastinação e o Super-Ego Capitalista: Como o Sistema Nos Paralisa

Nos vendem a ilusão de que podemos ser tudo. "Se esforce e conquiste!" dizem. Mas, quando nos deparamos com a realidade, percebemos que não seremos um novo Steve Jobs, uma estrela do rock ou um líder revolucionário aclamado por multidões. Então, o que fazemos? Paramos. Travamos. Procrastinamos.

A cultura do capitalismo tardio enfiou na nossa cabeça que, se não somos os melhores, então não valemos nada. Mas essa é uma lógica cruel, construída para nos manter frustrados e alienados, sempre buscando uma perfeição inatingível e nos sentindo incapazes. O capitalismo cria ícones inalcançáveis – gênios, milionários, artistas prodígios – e nos força a comparar nossas vidas ordinárias com esses mitos. E, quando falhamos nessa comparação, nos paralisamos.

Publicado em 13/07/2015