Toda forma de poder começa pela pretensão de ordem. O estruturalismo foi a tentativa moderna de transformar essa pretensão em ciência — mapear o mundo como um sistema fechado de relações, onde até o humano seria decifrável por regras fixas.
A Biopolítica, na esteira da análise foucaultiana, é o conceito-chave para entender como o poder opera na modernidade tardia. Em termos simples, ela representa a transformação na maneira como as estruturas de domínio controlam a existência humana. Antes, o poder do rei ou do Estado era exercido fundamentalmente pelo direito de tirar a vida — a pena de morte, a guerra, o castigo soberano. Foucault chamou isso de poder de "fazer morrer ou deixar viver".
A Biopolítica, porém, inverte essa lógica. O foco do poder não é mais a morte, mas a gestão da vida. O Estado e o Capital passam a administrar e otimizar a vida das pessoas em escala massiva, tratando a população como uma espécie biológica a ser regulada. O poder agora se define pelo direito de "fazer viver e deixar morrer". Ele se concentra em promover e prolongar a vida (através de políticas de saúde, natalidade, longevidade) apenas na medida em que essa vida é útil e produtiva, reservando o abandono ou a morte (o "deixar morrer") para aqueles que são considerados um risco, um custo ou um desvio. A vida biológica torna-se, assim, um objeto de cálculo e controle.
No emaranhado das relações capitalistas, o fetiche do capital emerge como uma força obscura, uma metafísica que domina não apenas as mercadorias e o dinheiro, mas também os próprios capitalistas. Esse fetiche não é apenas uma ilusão, mas uma realidade material que estrutura a vida social sob o capitalismo. Ele é o "primeiro motor imóvel" da economia, um deus secular que comanda os movimentos de acumulação e valorização, subordinando tudo e todos aos seus desígnios.
O anarquismo é frequentemente mal interpretado, distorcido ou reduzido a estereótipos. Para esclarecer algumas das dúvidas mais comuns, reunimos aqui respostas diretas, baseadas na história e nos princípios do movimento anarquista.
Vivemos em um mundo onde a cultura não é simplesmente uma escolha individual, mas um campo de disputa que nos molda e nos define. Pierre Bourdieu, sociólogo francês, desmascarou a ilusão de que nossos gostos e preferências são apenas fruto de uma subjetividade livre. Na verdade, são influenciados por nossa posição social, nossa educação e pelos círculos em que transitamos. Em outras palavras, não escolhemos a cultura — ela nos escolhe.
Bourdieu identificou que nossa visão de mundo e nossas preferências são formadas desde cedo, absorvidas inconscientemente. Esse processo ocorre através do que ele chamou de habitus, um conjunto de disposições que carregamos e que guiam nossa maneira de agir e interpretar o mundo. Nosso gosto musical, nossa forma de falar, os livros que lemos ou deixamos de ler — tudo isso não é apenas pessoal, mas socialmente determinado.
A expressão "luta de classes" tornou-se um chavão tanto para marxistas quanto para aqueles que criticam o marxismo. Muitas vezes, ela é usada de maneira superficial, como se fosse uma chave mágica capaz de explicar todos os fenômenos da realidade. No entanto, para compreender de fato o que significa a luta de classes, é necessário entender primeiro o conceito de classes sociais.
Karl Marx, em sua análise da sociedade capitalista, parte da relação entre proprietários e não proprietários dos meios de produção para caracterizar a formação das classes sociais. Essa divisão, segundo ele, é a primeira forma da divisão do trabalho, onde de um lado estão os trabalhadores, que produzem, e do outro, os proprietários, que se apropriam privadamente da produção. Essa relação de exploração e dominação é o cerne da dinâmica social capitalista, que Marx analisa através da dialética, um método que permite ir além das aparências e revelar as contradições profundas da sociedade.
O conceito de modos de produção é central na teoria marxista, pois ele nos permite entender como as sociedades humanas se organizam para produzir e reproduzir suas condições materiais de existência. No entanto, há muitas interpretações equivocadas sobre o que são os modos de produção e como eles se relacionam com a história. Neste verbete, vamos explorar o que são os modos de produção, como eles funcionam e por que Marx nunca propôs uma teoria geral sobre a sucessão histórica dos modos de produção.
Nos anos 1940, os filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer lançaram uma crítica feroz à produção cultural sob o capitalismo. Em Dialética do Esclarecimento, eles denunciaram como a arte e a cultura haviam sido transformadas em mercadorias dentro do sistema industrial. O nome dado a esse fenômeno foi Indústria Cultural – um conceito essencial para entender como o capitalismo não apenas explora o trabalho, mas também molda as consciências.
O capitalismo não se contenta em dominar os meios de produção; ele também busca controlar os meios de pensamento. E para isso, a cultura de massa desempenha um papel fundamental.
Quando Émile Durkheim mergulhou em suas pesquisas sobre o tecido social, ele se deparou com um fenômeno aterrador: o capitalismo não apenas explorava corpos e mentes, mas estava literalmente levando pessoas ao suicídio. O sistema econômico não apenas precarizava vidas materiais, mas criava uma armadilha psíquica da qual era quase impossível escapar.
Em sua obra mais importante, Suicídio (1897), Durkheim revelou uma descoberta chocante: conforme uma sociedade se industrializa e se rende ao consumismo, as taxas de suicídio disparam. Ele comparou diferentes nações e percebeu que a taxa de suicídio na Grã-Bretanha era o dobro da da Itália, enquanto a Dinamarca, ainda mais rica e desenvolvida, tinha uma taxa quatro vezes maior que a do Reino Unido. O capitalismo, em sua promessa vazia de progresso, estava corroendo a sanidade coletiva.
Durkheim não via o suicídio como um fenômeno isolado, mas como a manifestação extrema de um mal-estar muito mais profundo. O capitalismo não só falhava em oferecer sentido e comunidade, como também promovia uma cultura de individualismo radical, isolamento e competição desenfreada. Ele identificou cinco fatores centrais que contribuíam para esse estado de alienação: